Mas pode Deus


Eu tenho, e sempre terei, muito respeito e carinho por meus avós paternos e maternos. Convivi bem mais com meus avós maternos por conta das inúmeras viagens feitas à morada do sol para competir nos anos noventa. Meus avós nunca deixaram que eu "pousasse" num hotel quando estava na cidade, nem mesmo quando o patrocinador estava pagando a estadia no hotel mais tradicional da cidade, o Hotel Municipal. Fico contente por Chiquinho e Lourdinha terem feito isso por mim.
Com meu avô, Seu Francisco Benedito, aprendi a confiar nos meus sonhos, correr livre pelo mundo, falar alto quando fosse preciso e até ser gentil quando necessário. Com minha avó, Dona Lourdes, aprendi a ser amado incondicionalmente, ser responsável, fazer contas e estudar fora da sala de aula. Estudar o mundo, não os livros somente! Se me lembro bem ela me deu a cartilha Caminho Suave na noite em que minha irmã nasceu... A idéia era que eu aprendesse e ensinasse tudo para o novo bebê da casa... Fui caçula por seis anos, mas entendi o desafio quando ganhei a cartilha.
Desde então meus avós me aconselharam um milhão de vezes. Minha avó estava em casa quando (aos dezessete) resolvi usar um brinco na orelha esquerda... Quando meses depois o tirei para as fotos do meu primeiro passaporte. Fui apoiado quando tranquei a matrícula na faculdade e me aventurei pela California. Talvez todos os avós sejam exatamente assim. Fãs incondicionais de seus netos, extendem à cada um deles os votos do casamento. Na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza... até que a morte os separe.
Vó, descanse em paz. Muito obrigado pelas conversas, pelo colo da vó, pelo leite com mais açucar, pelas viagens de trem, pelos bolinhos fritos com cobertura ainda quente, pela preocupação em nos acomodar, por me disciplinar quando andei fora da linha... Agora a gente fica aqui falando do que passou, mas a jornada ainda não acabou.