Eu faço música.

Você fez um show, no ultimo dia 23 de Julho no Sesc Ipiranga, nos últimos eventos de hip hop que tem acontecido da Rede Sesc alguns grupos tem se repetido o que vc acha disso?

Essa é uma pergunta para programadores do Sesc, não para mim. Existe alguma lógica na escolha dos line-ups de cada evento. Muita gente do suposto "novo rap", diz fazer muita coisa, mas não faz nada. De repente os produtores culturais, do único lugar que faz bons eventos com artistas dessa vertente, tenham um trabalho bem difícil a cada ano. De qualquer jeito não devo ser eu dizendo qual é a solução, se é que isso é um problema. Eu faço música.

Você disse que as mixtapes não é algo para ganhar dinheiro, é tipo um teste, o que é necessário para se ganhar dinheiro no rap, o que você acredita que é necessário ser feito?

Não, não disse isso. Disse que as mixtapes não devem ser fruto da pressão de uma gravadora, selo, ou do próprio artista. A idéia desde o começo é de colocar a arte na rua da maneira mais crua possível. Faço dinheiro com mixtapes todo o tempo, já com discos oficiais somente no primeiro semestre do lançamento, as vezes no primeiro ano de lançamento. São propostas diferentes de trabalho, promoção, divulgação...Sou a favor da realidade de mais grana na mão do artista, e menos conversa, minha arte não pode depender da sazonalidade da indústria.

Você tem um jeito peculiar de falar o que pensa, o que você pretende passar com suas letras?

O que aprendi andando de skate, estudando, tentando ser um bom filho, um bom irmão, respeitando os mais velhos e me respeitando também. O que li nos livros, o que assisti em salas de cinema, o que ouvi de professores bem mais inteligentes do que eu na faculdade. O que ouvi de um senhor de perto de casa, que vai uma vez por ano visitar irmãos na Bahia. O que aprendi com meus amigos latinos em L.A., na real estou tentando achar uma maneira de falar de tudo no rap sem perder o rap de vista.

Rola algumas festas e shows de rap muitas vezes bem caro para a realidade da maioria do público de rap, você acredita que esta é uma maneira de deixar esse público que é mais carente longe de alguns artistas e aproximar estes artistas da classe média?

Saio pouco, trampo muito, e quando estou divulgando um novo trabalho vou a uma festa ou outra, mas não pago para entrar. Eu não sei bem disso. O que mais vejo são pessoas simples junto com quem tem algum dinheiro (ou muito) na festa, e por um segundo ou dois tenho a impressão que está tudo bem, mas não está. Quando a festa acaba a realidade de cada um está ali do lado de fora esperando.

O índice de exclusão digital no Brasil é muito alto. Você está do lado do muro que tem acesso internet e convive com os programas e as linguagens digitais, seus sons são expostos em sites, podcasts, blogs, entre outros meios. No entanto, seu trabalho não atinge a maioria da periferia. O que vc acha disso? A periferia é também seu público alvo?

Como assim? Eu sou fruto da periferia, meu propósito é citar Machado de Assis nas letras, para que alguém me fale que não entendeu. Assim posso dizer que Machado era negro, foi funcionário público, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, mas não falam isso nas escolas para não apagar a idéia de que nossa literatura, assim como outras áreas de nossa cultura sempre foi branca, e sempre pecou em não aceitar o que chegou aqui com escravos africanos. Alguns estudiosos até acham positivo, esse distanciamento da raiz africana. Meu público alvo, se é que tenho um, é o ser razoável, inteligente, que busca mais do que simplesmente se arrastar por esse planeta.

Muitos dizem que se pagassem ou fizessem alguma negociação para tocar suas músicas no rádio seriam reconhecidos e valorizados, independentemente da qualidade do trabalho .Seu trabalho tocou na 105FM uma rádio que tem uma programação destinada ao rap nacional. Vc acha que os ouvintes se identificaram com seu som?

É difícil dizer, essa é uma pergunta para os ouvintes.

Você produziu outros artistas que não estão ligados ao rap. Para qual artista nacional você gostaria de produzir?

Eu não penso muito nisso, só não me vejo produzindo gente que não conheço, ou não tenho alguma afinidade musical. Difícil ficar ali no estúdio expondo minha alma pra alguma verdade que não seja minha também. Produção é colaboração, deve haver um equilíbrio. Isso aprendi com Beto Villares e Vander Carneiro, não é algo que se diz durante um trabalho, mas é verdade.

...e é lógico que a matéria nunca saiu. Boa Noite! Off to the races.

2 comments:

Sidney said...

"e é lógico que a matéria nunca saiu" foi boa!
já aconteceu isso comigo também e você acaba de me dar a idéia de publicar no blog... hahaha
só preciso achar.

mas quem (tentou) te entrevistar?

abração!

Anonymous said...

Salve Fábio!

Antes de ler esse post eu li um do Napoli, que comentava o artigo de uma jornalista da Folha. O legal é que os dois posts se referem à questão da tal 'abordagem jornalística' do rap. E não só do rap, poderia ser também qualquer outra forma de expressão considerada pela elite como 'marginal'. Primeiro, há um claro despreparo dos 'entrevistadores', munidos de perguntas que parecem querer levantar uma polêmica qualquer para render uma entrevista mais 'bombástica'. Isso é ridículo e eu me revolto duplamente por também ser jornalista.
O engraçado é que mesmo sendo 'colega' dessas 'peças', eu me revolto com eles. Despreparo é despreparo e falta de bom senso, de profissionalismo e de respeito é coisa que atinge muita gente. E não só jornalistas...mas parece que esses tem uma queda pela 'coisa'!
Falei, falei e falei pra te perguntar uma simples coisa: como você agüenta esse povo?

Abraço. Peace!
Ps: Edu, aquele da Cone, saca? Rs.